O momento é bastante oportuno para se discutir o futuro da humanidade. Vivemos em tempos de integração das coisas com o homem, e é justamente isto que nos faz pensar, ou simplesmente nos acomodar nas delícias e prazeres da tecnologia regada a supostos alívios psicológicos.
O "Ócio Criativo" é uma ideia inovadora desenvolvida pelo professor e sociólogo italiano Domenico de Masi em meados da metade da década de 90. Segundo ele, o futuro do trabalho da sociedade pós-industrial está marcada pela união entre estudo e lazer. Com esta definição de Domenico, arrisco ainda em afirmar que o "tempo" desta sociedade moderna do "sem tempo" será drasticamente modificada para o "com tempo"... por quê?
Porque a 4ª revolução está pautada principalmente por substituir todo e qualquer tipo de trabalho operacional por máquinas, inteligência artificial, algoritmos, outras tecnologias. Ou seja, a maioria da humanidade precisará se reinventar... E qual a relação de "tempo" em tudo isso?
Grande percentual das pessoas dizem rotineiramente que estão sem tempo, que vivem em um sistema muito acelerado, são constantemente cobradas pelas organizações corporativas, produtividade a todo custo... cumprir metas, cumprir pontos de horários... bancos de horas. Ah sim, claro, todas as empresas também desenvolvem seus potenciais humanos, banco de talentos, motivações psicológicas buscando a satisfação pessoal e profissional do chamado "colaborador" (não mais funcionário)... Será? Será se no momento em que os gestores e líderes destas mesmas organizações puderem substituir tais colaboradores por máquinas, pensarão no psicológico dos mesmos?
Será se poderemos inclusive questionar nosso saudoso Idalberto Chiavenato, que diz que as pessoas fazem a prosperidade da organização em sua definição nua e crua?
Meus amigos, a 4ª revolução é um ambiente bastante incerto sim, mas sinceramente acredito que o ser humano é capaz de adaptar ao ambiente em que vive. Porém, com algumas várias dores (usei figura de linguagem intencionalmente para pensar além do óbvio?).
Pois bem, então o que é esse raio de "ócio criativo"?
O cálculo é simples. Suponhamos que o grande percentual de pessoas no mundo atuam hoje em áreas operacionais nas organizações, como: carga e descarga, jardinagem, atividades de picking, construção civil, redes varejistas e atacadistas, call center, transporte, turismo e hotelaria, entre outros. Imaginem um mundo onde tudo isto será feito por máquinas, que inclusive entregarão um resultado mais eficiente e eficaz. Onde irão essas pessoas que perderão o emprego? Teremos uma onda de desemprego no mundo? O que acontecerá?
E para deixar ainda mais grave esta discussão, temos algumas estatísticas populacionais de que serão mais de 11 bilhões de pessoas no mundo até o ano de 2100, ou seja, migraríamos de uma população atual em torno de 7,5 bilhões neste ano de 2018.
Então, definiria como "Ócio Criativo", o tempo que estas pessoas terão para criar, inovar, fugir da sua zona de conforto, trazer algum propósito humano que as máquinas e IA's não possuem, o tempo de "ser humano". Será que a onda filosófica em massa do século XXI irá aparecer? Será que nossa cultura do pensamento irá sofre transformações no nosso dia a dia? Será que as relações de dogmas, valores, ética e política sofrerão destruições criativas (como diria Schumpeter)?
Segundo o site de pesquisa Wikipédia, o ócio, no sentido vulgar do termo, remete à noção de folga, de
falta de compromissos de trabalho e, nesse contexto, possui uma
conotação negativa que liga a ideia de ociosidade à ideia de vadiagem e de preguiça. Na literatura e na sociologia, contudo, o termo foi e é empregado muitas vezes em sentidos distintos.
A defesa do ócio enquanto um momento de criação e reflexão,
distinto portanto da noção de "não fazer nada", aparece na literatura do
ocidente como uma resposta à sociedade industrial que tornou os
indivíduos cada vez mais atarefados e presos ao mundo do trabalho. A
base da teoria (Marxista)
desde o seu início era o direito progressivo do trabalhador a
apropriação do ócio criativo, fazendo que a sociedade ficasse mais
produtiva como um todo. Desde o século XIX, quando o jornalista francês Paul Lafargue (1842-1911) publicou seu notório "O Direito à Preguiça",
a noção do ócio passou a ser revista e readequada a essa nova
sociedade. Subsequentemente ao texto de Lafargue, por exemplo, pode-se
citar O Elogio ao Ócio, um ensaio de autoria do filósofo e matemático inglês Bertrande Russel (1872-1970),
para quem o trabalho não é ou não deveria ser o objetivo da vida de um
indivíduo, trazendo o ideal de um mundo em que todos possam se dedicar a
atividades agradáveis, usando o tempo livre (ocioso) não apenas para se
divertir, mas para ampliar seus conhecimentos e a capacidade de
reflexão. Já na segunda metade do século XX, a expressão ócio criativo
foi consagrada pelo texto homônimo do sociólogo italiano Domenico de Masi (1938), citado no início deste texto, publicado originalmente em 1995. Nele, De Masi analisa a questão do ócio numa sociedade pós-industrial:
"Desde
que o livro do Paul Lafargue e os livros atuais de Domenico De Masi
falam de ócio criativo, do direito à preguiça, nós entendemos que
imersos numa situação que eu chamarei de "tarefeira", apagando um
incêndio aqui e outro ali, nós cada vez mais perdemos a noção deste ócio
que faz criar; que é diferente de não fazer nada. (...) O ócio criativo
é a capacidade de eu me entregar a uma música, a uma atividade lúdica, a
um filme, a uma peça de teatro, uma situação afetiva em família, e dali
extrair ideias, pensar e me entregar a uma criação que pressupõe maior
estabilidade, inclusive emocional. O ócio criativo é fundamental para eu
poder trabalhar. Isso nos torna pessoas cada vez menos produtivas. É
preciso o ócio criativo no sentido da capacidade de pensar, ter ideias,
estabelecer estratégias e dar passos seguintes, o que é diferente de eu
viver imerso nesse oceano de ações cotidianas."
Visto todos esses argumentos, só me restam perguntas e mais perguntas... Será o início do meu Ócio Criativo? Vamos juntos fomentar a "Destruição Criativa"? Vamos fugir da zona de conforto? Porque aliás, o animal satisfeito dorme.
Um grande abraço e feliz natal!
Prof. Me. Gabriel Lopes Oliveira
Referências:
- Folha: Revolução digital pode reinventar o emprego contemporâneo
- A emancipação ociosa, ou, o que nos propõe a teoria crítica de Marx?
- https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93cio
Nenhum comentário:
Postar um comentário